segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Banheiro Masculino.



Na guerra milenar que existe entre homens e mulheres, elas levam vantagem no quesito “banheiro”. Sim, porque o banheiro feminino ainda é um dos maiores mistérios da sociedade, com inúmeras teorias de cientistas, sociólogos e namorados, divididos em temas que vão desde o “por que elas demoram tanto lá dentro” ao clássico “mas precisam sempre ir com uma amiga?” (em relação a este último, eu, particularmente, gosto da idéia que prega a existência de uma mesa de pingue-pongue lá dentro – daí a necessidade de duplas). Já o banheiro masculino não oferece nenhum mistério ou romantismo. Se o cara demora no banheiro, “é porque está aprontando algo”. Simples assim. Enquanto o banheiro feminino é um universo à parte, o banheiro masculino é apenas isso: um banheiro.

Totalmente injusto. Tudo bem que nossos banheiros não devem ter a mesma graça que os femininos e, realmente, nada de muito interessante acontece lá dentro (ao menos, naqueles em que eu freqüento). Mas eles têm algumas regras de conduta que devem ser seguidas para o bem-estar de todos os presentes. A primeira e mais importante é a Lei do Ôpa.

Quem é homem, sabe. Você está ali, em pé, olhando a parede e obedecendo ao impiedoso chamado da natureza, quando a porta atrás de você se abre. Você vira a cabeça e dá de cara com outro sujeito entrando ali. Seus olhares se cruzam e, com um leve aceno de cabeça, vocês se cumprimentam da única forma aceitável nessa situação:

– Ôpa.

– Ôpa

.

Isso porque não faz parte da natureza humana entrar num banheiro e dar de cara com alguém. Ao entrar num banheiro, você inevitavelmente está invadindo o território de quem já está ali. Não é uma das situações mais confortáveis do mundo – tanto para quem entra como para quem está lá dentro. Por isso foi criada a Lei do Ôpa. Apesar de nunca oficializada, foi o modo que os homens desenvolveram, ao longo dos séculos, de dizer: “estou aqui pelo mesmo motivo que você. E eu também preferia estar sozinho. Vamos acabar logo com isso, voltar cada um pra sua mesa e fingir que nunca nos encontramos”.

Sem o Ôpa, ninguém fica tranqüilo lá dentro. Fica a impressão que você será atacado a qualquer minuto (em qualquer sentido que essa palavra possa assumir) pelo sujeito que está lavando as mãos, ou pelo cara que acabou de entrar. O Ôpa acaba com qualquer dúvida. Ele deixa claro que vocês não são amigos, provavelmente não serão amigos nunca, mas que irão se tolerar respeitosamente por alguns instantes. E, que, “sim, você pode fazer o que precisa aqui dentro. Não vou ficar no seu caminho, desde que você não fique no meu”.

Não há uma alternativa para o Ôpa. Se você entrar num banheiro, der de cara com alguém e soltar um “oi, tudo bem?” a pessoa vai te olhar com desconfiança. Se você sorrir para ele, então, é capaz de dar pau lá dentro. Nada substitui o Ôpa. Algumas pessoas mais formais preferem o clássico “Como vai?” ao darem de cara com alguém no banheiro, mas acabam sendo vistas com desconfiança. Um “Como vai?” deixa uma certa tensão no ar, você não sabe se a pessoa vai continuar a conversa ou não. Já o Ôpa deixa claro que a única conversa que vocês terão é aquilo mesmo: Ôpa. E isso basta. Desde que seja pronunciado no tom correto, claro. O Ôpa jamais pode ser empolgado demais, ou alegre. O Ôpa correto é sempre sério, fechado. Você está num banheiro masculino, e não há espaço para alegria lá dentro.

Por isso que admiro as pessoas que vão para o banheiro ligar para a amante. Você entra ali e o cara está encostado na pia, combinando com aquela morena de 22 anos deliciosa como vai fazer para fugir do escritório e se encontrar com ela, ao mesmo tempo em que ela dá chiliques no telefone porque ele ainda não largou a esposa. Mesmo naquela situação delicada, ele olha para você e acena com a cabeça, com aquele olhar de Ôpa. É uma pessoa que, mesmo com motivos menos importantes para estar ali, teve a delicadeza de obedecer às regras sociais e tranqüilizar você com o Ôpa providencial.

Respeito também os que entram correndo no banheiro, suando frio e já abrindo as calças no caminho. Mesmo nessa situação, alguns ainda encontram tempo para soltar um Ôpa apressado no caminho, dando mostras de uma hombridade e uma consciência social ímpar. Na verdade, ele nem olhou no seu rosto, mas, mesmo assim, obedeceu às regras vigentes.

O problema são os homens que vão aos pares no banheiro. Você entra e eles estão ali, conversando sobre as pernas da loirinha da mesa. Eles são uma dupla e você ali, sozinho. Nesses casos, o seu Ôpa requer mais respeito, devido à inferioridade numérica, mas, se somente um deles já responde, a tensão se dissipa. O porta-voz da dupla aceitou sua entrada ali dentro. Quando os dois respondem, então, é sinal que você já faz parte do bando.

A exceção são os banheiros de shopping. Como estão sempre lotados, a Lei do Ôpa não se aplica. Ali é terra de ninguém. Por isso que esses lugares contam com um guardião: o faxineiro, que mantém a ordem no lugar, observando a todos do seu posto soberano (ao lado da pia, apoiado num rodo que pode ser usado como arma em casos extremos).

Mas, em todos os outros banheiros – menos o da sua casa, a não ser que você more numa pensão – a Lei do Ôpa é tão importante como lavar as mãos depois. Isso vale para todos os banheiros: desde aqueles dos restaurantes mais finos até o do boteco do outro lado da rua, que está sempre alagado e a porta não fecha direito. Não importa o que você foi fazer no banheiro, o Ôpa é a senha que permite que a paz continue reinando lá dentro.

A civilização ruiria sem o Ôpa.

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