quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Cciksrwrrundredi

É sério isso? Você realmente vai perder tempo lendo um post chamado Cciksrwrrundredi?

Tudo bem, você acha que eu escrevo bem – e agradeço imensamente o voto de confiança – mas, no seu lugar, eu já teria virado as costas e ido embora. Porque fazer um post chamado Cciksrwrrundredi já é exagero da minha parte. É muita vontade de chamar a atenção.

Cciksrwrrundredi. É brincadeira, né? Porque a palavra não quer dizer nada (ao menos, eu acho) e, além de tudo, é feia, parece o som de alguém limpando a garganta. Não há a menor possibilidade de um post com este título ser bom.

Aliás, quer um conselho? Eu nem perderia mais tempo aqui.

Deivid x Bebado!

Sabe aqueles dias nos quais você precisa matar alguém?


As mulheres chamam de TPM. Eu sou mais sincero e chamo de “dias que preciso matar alguém”. Sim, é esse o nome. Tem outros nomes, como “o dia em que o Deivid está com os cornos virados”. Mas eu particularmente prefiro “dias que preciso matar alguém”.

E não é “dias nos quais preciso matar alguém”, é “dias que preciso matar alguém” mesmo, porque homicídio e concordância gramatical não necessariamente precisam andar juntos.

São os dias em que tudo, absolutamente tudo, deu errado e eu, em algum momento, explodo.

Ando pela rua torcendo para que alguém menor que eu surja do nada, puxe uma faca e mande-me entregar o celular. Assim, eu tenho todos os motivos do mundo para fazer com que ele coma a faca, o celular e provavelmente um dos meus tênis. Claro que nunca aconteceu nada.

O motivo pelo qual nunca aconteceu nada é que meu rosto, quando estou assim, não deve ser dos mais simpáticos. Alguns meses atrás eu tive uma crise dessas e fui a Caratinga. Eu andava pela calçada e as pessoas iam desviando e abrindo caminho para mim. E evitando me olhar nos olhos. Num determinado momento, minha vontade era parar e berrar: “Vão se FU...”

Mas, quando eu explodo, dura apenas cinco minutos. Já os dias nos quais eu preciso matar alguém são bem mais raros (felizmente) e o ódio dura muito mais (infelizmente).

Nesses dias, se eu fosse um personagem de Star Wars, o Darth Vader ligaria para o Imperador assim que me visse, para falar:

– Mestre? Acho que tem um lado negro mais negro ainda que o nosso. Você nunca me disse nada sobre isso. Sabe de algo a respeito? Porque, pelo que vi, lá parece ser mais promissor em termos de carreira. Isso sem falar na satisfação pessoal.

Enfim, ninguém precisa ficar assustado. Estes dias são raros mesmo.

Mas recentemente tive um deles.

Logo depois de deixar minha namorada no ponto de Onibus, estava andando pela rua com a minha melhor expressão, quando o tal moleque menor que eu com uma faca surgiu do nada, mas na figura de um bêbado. Foi na frente da UNEC.

– Ei! Vozzzzzê aí!

Eu parei e olhei.

Eu já havia visto este bêbado ali algumas vezes. Está sempre gritando e mexendo com as pessoas na rua.

Enquanto ele se aproximava, tentei incinerá-lo com meus olhos. Não deu certo.

Meu punho se fechou.

Como vi Sherlock Holmes esse mês, planejei com cuidado cada um dos meus movimentos. Eu iria quebrar o nariz dele com um murro; ele iria ficar tonto; eu daria uma voadora; ele cairia para trás, sobre o capô de um carro estacionado a poucos metros. E eu terminaria a surra o segurando pelos cabelos encardidos e enfiando meu joelho em sua boca. Quando ele estivesse no chão, tentando contar os ossos quebrados, eu diria apenas “volte para sua cela ou eu irei atrás de você”, estalando o pescoço.

Não, melhor. Ia cobrir o FDP de porrada até chegarmos perto de uma lata de lixo. E de metal, tinha que ser um latão de metal. Com o pinguço no chão, pegaria o tampo do latão e o surraria impiedosamente com aquilo, até deixar seu rosto desfigurado. Aí, me levantaria e cuspiria na cara dele, resmungando ofegante que “Já era, seu bêbado filho da puta”.

(E, nos meus sonhos, o pessoal do Takuari sairia correndo assustado para a rua, para ver o que estava acontecendo, e eu já quebrava um deles de porrada também, para puni-los pelo fato de nunca terem troco.)

Mas mudei de idéia, por que a única lixeira ali perto é de plástico.

Não ia dar certo.

Estava pensando em qualquer surra de cinema quando o bêbado decidiu que eu havia demorado demais.

Era a vez dele.

– Vozzzzê conhezzzze zaquela piada do careca? jaaaá ouviu? a piada do careca?

E de repente eu me lembrei que não sou o Batman, nem ninguém.

Lembrei-me que sou o Deivid.

Quer dizer, na verdade eu estava prestes a me tornar o Careca da tal piada, mas, naquele instante, eu ainda era o Deivid. E, como Deivid, eu não dou voadoras nem tenho tampas de metal de latas de lixo. Eu tenho só as palavras.

E, como o sujeito parecia estar bêbado demais para se lembrar de que um dia alguém disse “paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas palavras não me atingem”, fui em frente.

– Conheço. É aquela na qual o careca manda o bêbado ir tomar no cu.

Meu punho continuou fechado.

–Ooooi?

– É, é assim mesmo. Presta atenção que eu vou contar. Ok?

– Zok.

– Vai tomar no cu.

– ooOoi?

– Eu avisei que já conhecia.

Pensei em colocar um “mortal” no final da minha frase, mas o bêbado não teria entendido. (Nota mental: experimentar chamar alguém de “mortal” na próxima discussão que tiver na rua. Não me esquecer de fazer olhar de Deus. Hades, de preferência. Procurar imagens no Google para futura referência.)

– Hum... axo que não zera azzzim.

– Agora é. Vai embora antes que eu conte de novo.

– Tá. Xau.

– Tchau.

Virei a esquina, me apoiei na vitrine da Spazzio e fiquei rindo por cinco minutos.

"Às vezes, é mais fácil do que a gente imagina. E mais divertido."

Prazer, "Cicilho" !

03:30 de uma madrugada de uma segunda qualquer de 2009

Meu celular tocou três vezes. O identificador de chamada acusava “número privado”. Não atendi na primeira vez. Tocou de novo. Atendi, era uma ligação a cobrar. Desliguei. Tocou mais uma vez, outra chamada a cobrar. Fiquei preocupado.

Aceitei a ligação.

Era uma garota, claramente no meio da rua, querendo falar com o Cicilho. Ia gargalhar, mas lembrei-me que a ligação era a cobrar. Disse que não tinha ninguém com esse nome e desliguei. O telefone tocou. “Número privado”. Atendi. Era a mesma menina querendo falar com o tal Cicilho. Respondi que ela estava com o número errado e com algumas vogais a menos. Desliguei.

Tocou mais uma vez. “Número privado”. Foda-se. Atendi.

–Alô.

– Cadê o Cicilho?

– Quem está falando?

– Quero falá com o Cicilho!

– Sim, isso eu ouvi. Quem está falando?

– É a Lucilâneide.

Ok, o nome dela não era esse, mas não era muito diferente. E, cá entre nós, uma pessoa que liga 3 horas da madruga de segunda-feira, a cobrar e do meio da rua, para alguém chamado Cecílio, claramente não irá se chamar Rita Hayworth ou Vivien Leigh. Resolvi dar corda.

– Oi. Sou eu.

– Cicilho?

– Sim. Sou eu, Cecílio.

– Sua voz tá diferente!

Antes que eu respondesse, outra menina pegou o telefone e começou a falar.

– Cicilho? Vêim buscá nóis!

– Oi?

– Num é o Cicilho, a voiz tá diferente! Cicilho?

– Eu.

– Você num é você. Sua voiz tá diferente!

– Sou eu sim.

– Num é!

– Ok. E como é a minha voz?

– Sua voiz é mais fina!

– É que eu estava dormindo, por isso.

– Ai, já tá durmindo?

– Já. Acordei com vocês ligando.

– Então, a gente queria que você vinhesse buscá a gente e levá nóis pra casa!

Oi? Abusada, essa Lucilâneide.

– Putz, eu estava dormindo...

– Ah, Cicilho, pega nóis aqui. Tâmo no Jardim Roberto!

Jardim Roberto. Deus. Não faço idéia de onde fica isso. Isso tem pinta de nome de lugar que não possui água potável. Mas, resolvi ver o que tinha para mim nisso tudo.

– O que eu ganho, se eu for aí?

– Ah, Cicilho, você saaaaaaabe!

– Não, não sei. O que eu ganho?

A outra menina, ainda anônima, berrou no fone.

– TUDO O QUE VOCÊ QUERÊ!

Antes que eu gargalhasse no telefone, a Lucilâneide assumiu o controle da ligação. Mentalmente, vi ela segurando o telefone com uma mão e empurrando a outra menina, a do “querê”, com o pé.

– Vai, Cicilho, pega nóis aqui e leva pra casa.

– Já disse, quero saber o que eu ganho.

– Você num é o Cicilho, sua voiz tá fina!

– Não muda de assunto, Lucilâneide. O que eu ganho?

– Tudo, ué. É só pedi!

– Ok. Estou indo aí.

– Você tava dormindo com quem?

– Sozinho, ué.

– Você nunca dórmi sozinho!

– Bom, eu estava sozinho. Estou indo para aí. Chego em vinte minutos.

– Você dórmi num quarto cum monte de muié!

Fodão, esse Cecílio.

– É, mas estou sozinho hoje. Vou colocar uma camiseta e vou para aí.

– Você vêim como?

Fudeu. O que eu respondo?

– Como assim, como?

– É, você vêim como?

Resolvi jogar a bola para ela.

– Como você acha que eu vou?

– Num sei. Vêim de pé ou montado?

Montado? Ela acha que eu vou a cavalo para o Jardim Roberto? Bom, vamos ver o que sai.

– Montado, claro.

– Você num é o Cicilho! Tua voz tá diferente!

– Eu não quero mais ouvir isso. Vocês estão no Jardim Roberto? Estou indo.

– Cicilho, Cicilho...

– Não demora. E é bom se animar, porque agora eu perdi o sono.

– Você num é o Cicilho!

– Já já a gente conversa. Chego aí em uns vinte minutos.

– Tá bom. Vêim logo! Tá mó frio!

– Espere aí que estou chegando. E eu vou montado. Beijos.

– Bêju.

Eu avisei duas vezes: eu não sou o Cecílio.

Se ela não quis me ouvir, problema dela.

Ja era²!

Legal, minhas chances de ir pro céu foi mesmo pro espaço!

O “Alexandrino” do post anterior, morreu a 3 meses e eu só descobri isso a 20 minutos!

Ou era alguém muito parecido com ele, ou era “ele” mesmo...

Licença gente, vo ali me confessar!

Já era!

Ontem passei em frente à uma casa de construção perto de casa, que fica próxima à padaria que eu freqüento. Quem estava lá era o Alexandrino, um velho de mais ou menos 350 anos numa cadeira de rodas. Qualquer dia eu falo mais dele por aqui.

Mas ontem passei por lá e, vendo que ele estava sorindo, o cumprimentei.

– Oi, tudo bom com o senhor?

– GLÓRIA A DEUS! SÓ CRISTO SALVA!

– Ah, então tá.

É oficial: qualquer chance que eu tinha de ir para o céu virou fumaça com esse “Ah, então tá”.